segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ícone – Alfa Romeo SZ “o Monstro”

O fim dos anos 80 não deixava adivinhar um futuro risonho para essa ilustre instituição dedicada à paixão automóvel apelidada de Alfa Romeo. Os tempos com a Fiat foram difíceis e a grande companhia italiana não tinha conseguido fazer renascer a lendária Alfa que se tornara então famosa pelas suas criações pouco inspiradas e dadas ao terrível mal da ferrugem…
Algo precisava desesperadamente de ser feito, era necessário promover um reencontro entre a Alfa e o seu passado de excelência desportiva. Vittorio Ghidella, o patrão da Fiat à época decidiu dar a nada mais, nada menos que três equipas de design a tarefa de criar algo novo, algo que elevasse o perfil da Alfa Romeo. Olhando para estas mesmas equipas, é fácil adivinhar que o resultado final traria sempre um toque de génio; uma das equipas foi liderada pelo líder do departamento de design da Fiat (Centro Stile Fiat), Mario Maioli com a assistência de Robert Opron (criador do lendário Citroen SM, do marcante CX e do curioso Renault Fuego); outra por Walter da Silva (que viria a criar mais tarde o popular e belo 156) em conjunto com Alberto Bertelli do Centro Stile Alfa Romeo; e uma terceira (em parceria com Silva) na lendária Zagato (Centro Stile Zgato). Embora a criação da equipa Zagato tenha acabado por não ter conseguido continuidade (o resultado final carrega no entanto o nome da empresa – conferir texto mais abaixo), os desenvolvimentos levados a cabo por Opron foram marcantes, resultando nos esboços iniciais mais tarde refinados pelo jovem designer Antonio Castellana e que acabaram por constituir a proverbial “pedrada no charco” do marasmo em que a Alfa se encontrava a afogar. 19 Meses passaram desde as primeiras linhas em papel até à estreia no Salão de Genebra em 1989, uma estreia deva dizer-se repleta de controvérsia. O aspecto cru e brutalmente agressivo do SZ (“Sprint Zagato”, designação herdada do belíssimo Giulietta Sprint Zagato de 1959), na altura apelidado “Experimental Sportscar – 3.0 litre” ou “ES-30”, valeu-lhe de imediato a denominação de “Il Monstro” (o monstro) por parte da imprensa. Citado no website alfaworkshop.co.uk, o jornalista Roger Bell da prestigiada publicação Car Magazine apelidou o SZ de “feio”, “horrendo”, “ridículo” e “monstruoso”, não tendo sido no entanto apenas Bell a criticar o aspecto controverso daquela explosão de criatividade da Alfa. Apesar da recepção áspera por parte dos críticos, as também existentes percepções positivas sobre o modelo foram suficientes para levar a Alfa Romeo a avançar com o modelo para produção (mesmo que limitada).
Por trás do arrojo no SZ, surpreendentemente a base para este extraordinário “monstro” era a do comum Alfa 75 (não esquecendo que esta base fora aperfeiçoada a partir das lições retiradas da participação do 75 no campeonato da International Motor Sports Association pelas “mãos” da Alfa Corse). Já a carroçaria acabou por ser desenvolvida com recurso a inovadores painéis de compósitos de resina e plástico produzidos pela Carplast de Guiseppe Bizzarini (filho do célebre Giotto Bizarrini), em conjunto com a francesa Stratime. A adaptação da resina ao metal acabou por se provar difícil, levando a algumas disparidades nos encaixes dos diversos painéis, enquanto outros no entanto se encaixam e completam com toda a perfeição.
Apesar da forma sua forma complexa, o SZ possui uma aerodinâmica invejável, ou seja, as longas horas passadas no túnel de vento da Fiat deram de facto frutos. Em termos de desempenho, o SZ é capaz de manter até 1.4 em termos de forças G em curvas apertadas, alcançando em recta a velocidade máxima de 245 km/h (embora alguns relatos apontem valores superiores a 275), não esquecendo é claro a muito respeitável marca de 6.8 segundos a quando da aceleração dos 0 aos 100 . A caixa é de 5 velocidades e o motor V6 (composto em liga leve) foi modificado pela Alfa Corse e passou a contar também com o inovador sistema Bosch Motronic.
Acerca do peso (1.260 kg), o SZ acabou por se tornar dez quilos mais pesado que o 75 em que foi baseado mas, no entanto, e apesar das suas dimensões generosas (mais de 1.70 m de largura e 4 m de comprimento), como foi anteriormente afirmado, a performance claramente não foi prejudicada. Além do mais, um sistema especial da Koni tornava possível variar a altura do SZ em 50 mm, de modo a que este pudesse desfrutar da melhor aerodinâmica possível em velocidade, mas passar também confortavelmente sobre obstáculos como lombas, evitando assim estragos. O comportamento em estrada é descrito pelos utilizadores como “soberbo”, o que não constitui surpresa quando consideramos a suspensão nascida na competição e a utilização dos fantásticos pneus Pirelli P-zero.
Em termos de opções, compreendem-se as limitações do seu período temporal, mas o SZ leva-as mais além e reafirma também neste campo a sua tendência crua de desportivo puro-sangue, pois não foi sequer equipado com sistema ABS. Apenas uma cor estava disponível a quando da produção, o vermelho denominado “Rosso Alfa” (só o exemplar de Andrea Zagato foi pintado em preto) e os interiores são pelos padrões actuais, no mínimo, espartanos, mas simultaneamente extremamente funcionais e acessíveis ao condutor
A crise no mercado dos carros desportivos e o aspecto sui generis do SZ acabaram por ditar o fim da produção deste modelo; no total, acabaram por ser construídos apenas 1036 Alfas SZ (11 logo em 1989, 289 em 1990 e 736 em 1991, não esquecendo no entanto que 38 deste total eram protótipos ou veículos de pré-produção). No entanto, a história do SZ teve ainda mais dois capítulos antes de ser relegada para a memória colectiva dos entusiastas: o primeiro sob a forma do SZ Trophy, uma competição através da qual a Alfa tentou incrementar as vendas do SZ oferecendo 25% do valor do veículo aos participantes e o segundo quando a Zagato criou o RZ em 1992 (a versão descapotável o SZ); inicialmente visto um ano antes pela imprensa sob a forma de um estudo de estilo repleto de líneas curvilíneas, a quando do seu lançamento para o mercado, o RZ acabou por não ser mais que um SZ ao qual aparentemente haviam cortado o tejadilho. Estava prevista uma produção de 350 unidades para o modelo, mas este revelou-se ainda mais complicado de vender que o seu “irmão” coupé, levando à morte do mesmo após apenas 278 unidades terem sido completadas.
Apesar da estética extremamente controversa e do insucesso comercial, o Alfa SZ ganhou um lugar especial no coração dos apreciadores da marca e, de certo modo, do público em geral apreciador da estética e história automóvel. O SZ manter-se-á sem dúvida para sempre como um testemunho ao poder da criatividade e ao modo como um modelo emblemático pode dividir opiniões e mesmo assim impulsionar novamente toda uma “instituição”.

Fontes Consultadas:
(online)
http://home.wxs.nl/~evdbeek/szstory02.html
http://www.alfasz.nl/MY_SZ.html
http://www.alfaworkshop.co.uk/alfa_sz.shtml
http://www.ritzsite.nl/Alfa_SZ-RZ/02_Alfa_SZ-RZ.htm
http://www.thesupercars.org/alfa-romeo/alfa-romeo-sz-rz/

(documentais)
LINTELMAN, Reinhard – Carros desportivos: velocidade e elegância desde 1900 até à actualidade. Colónia: Naumann & Gobel Verlagsgesellschaft mbH. ISBN 978-3-625-11740-7

Imagens Utilizadas:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f3/Alfa_Romeo_SZ.JPG
http://www.gummen.org/tmp/alfasz/SZ_RDW_Wallpaper.JPG
http://www.gummen.org/tmp/alfasz/MYSZ_02.jpg

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