sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Uma visão sobre: grandes automóveis por menos de 25.000 euros

Jaguar XJR, Mercedes-Benz SL 500 e Citroen SM

Os mais atentos ao que acontece no meu humilde blog devem recordar-se que há algum tempo atrás parti em busca de um carro novo e que, na altura, fiquei abismado com o que se podia comprar com 40.000€ o que me levou a pensar: e se o valor fosse muito menos, ainda seria possível encontrar algo bom e original, algo que me permitisse “to stand out of the crowd”? Perdoem-me a expressão, mas em breve o Star Car terá versão em inglês com novo nome e novo formato e tomo então a liberdade de ir praticando a língua, mas mais tarde darei notícias sobre o assunto; por enquanto concentro-me novamente nesse fascinante mundo das páginas de usados.
40.000€ podem ser ainda pouco acessíveis (embora eu não goste particularmente de me referir a aspectos mundanos do foro da praticabilidade, há mais e melhor sobre esses assuntos para ler em outros lugares) mas, de qualquer modo, decidi reduzir o orçamento e colocá-lo nos 25.000€ ou menos. Armado com o novo limite, decidi que seria uma boa ideia diversificar, assim, procurei um carro de luxo, um desportivo e um clássico.
Começando pelo luxo então pelo luxo.


O Jaguar XJR de 1998. Tire um minuto e olhe para ele…é fantástico! Tem um ar tão solene e simultaneamente tão reconhecível, andar com um automóvel destes é uma afirmação muito forte e quando adoptado por alguém fora do perfil do comprador normal deste género de modelo, então fico sem palavras para descrever o factor “cool” desta equação. Geralmente ao considerarmos o XJ a nossa mente vagueia automaticamente para “velhinhos” com estigmatismo e dinheiro a mais que gostam de ocupar dois lugares no parque de estacionamento, mas este é diferente, os “velhinhos” não gostam daquele pequeno “R” que segue o “XJ” e que define toda uma nova concepção deste modelo.
Vou saltar a questão do luxo nesta pequena apreciação (porque me parece irrelevante estar a falar de tal coisa em relação a este modelo, creio que toda a gente saberá o que esperar relativamente a esse “departamento”) e passar directamente ao coração do XJR, o V8 “AJ” de 4 litros utilizado no (na altura novo) XK8. 370 cavalos e uma aceleração dos 0 aos 100 em apenas 5 segundos fazem do XJR uma alternativa extremamente tentadora ao M5 abordado no último artigo e que fica por um preço semelhante; sem dúvida, o BMW tem uma performance muito melhor, mas o Jaguar está num patamar completamente diferente. Os Jaguares da era de 80 eram notoriamente pouco fiáveis mas com o XJR, o comprador sabe que porque este foi produzido na era “Ford”, tais problemas são algo com o qual não terá de se preocupar. “A road going luxury rocket” como refere Traian Popescu do website fantasycars.com, esta é uma definição clara e concisa do que o XJR significa como automóvel, embora não possa deixar de citar também a Motortrend.com que a certa altura faz alusão a um comentário, no meu ponto de vista brilhante, que descreve este Jaguar como um “Musclecar in a tuxedo” (Alias, para quem tiver sérias intenções de procurar um destes modelos o artigo da Motortrend é absolutamente essencial!).
O XJR tem uma abundância extrema da cobiçada mistura de personalidade e presença que ilude muitos dos grandes carros de luxo de então e da actualidade; é elegante e arrojado e nas mãos do condutor certo, um acessório que garante classe ao mais alto nível.
Uma pequena nota final: os mais astutos dos meus leitores notam certamente que o XJR das fotos deste artigo tem matrícula inglesa, estando eu a falar de valores do automóvel no mercado nacional; a razão para esta discrepância é que actualmente, por mero acaso, não encontrei à venda (embora já tenha encontrado por diversas vezes anteriormente) um XJR preto e este é um carro que tem de ser preto, qualquer outra cor rouba ao carisma do modelo e é, francamente, uma idiotice. Ter um destes Jaguares que não seja desta cor é como…um smoking cor-de-rosa, continua a ser um smoking mas…


O Mercedes Benz SL 500 de 1996 (embora aqui a escolha se estenda de 89 em diante; o autor Ken Rockwell tem um artigo bastante completo em relação às vicissitudes de todos os modelos da gama caso o leitor esteja interessado). Eu sou completamente apaixonado pelo R129 desde criança, acho que é simplesmente um dos automóveis mais belos alguma vez produzidos (alias, o R129 foi premiado com o International Car Design Award). É impossível perder um destes no parque de estacionamento, ao contrário dos SL’s da geração seguinte (infelizmente) que só se tornaram interessantes do SL 55 AMG em diante, porque até então mesmo o SL 600 me pareceu (e parece) aborrecidamente contido e desinteressante.
Em termos de performance, apesar do seu V8 de 5 litros, o SL 500 não impressiona pelos valores que alcança; com apenas 315 cavalos, os 100 quilómetros/hora levam cerca de 6 segundos e meio a alcançar e a velocidade máxima foi irritantemente limitada ao estilo dos grandes construtores alemães. No entanto, nada disto interessa rigorosamente nada e tal afirmação vinda de mim não significa pouco, é necessário um automóvel ter muito, mas realmente muito a seu favor para eu conseguir perdoar um desempenho tão mediano num desportivo, mas neste em particular…
É difícil explicar a atracção do R129 e ao início, acredito que lhe passe completamente ao lado, mas dê-lhe algum tempo, observe e garanto que vai começar a fazer muito sentido.
O ponto do R129 não é quão depressa vai, mas para onde vai; é um automóvel no qual se deve ser visto, é uma obra de arte que por acaso anda na estrada; por minha vontade, seriam todos recolhidos a museus para assegurar a sua conservação de modo a que as gerações futuras se pudessem encantar com a sua magnificência; é absolutamente lindíssimo, um dos raros (digo, raríssimos) casos em que a forma ultrapassa, mais concretamente, humilha a função.


O Citroen SM de 1974. Este Citroen é um verdadeiro ícone da marca francesa que anteriormente já tinha dado ao mundo o estonteante DS. Em 1968 a Maserati foi comprada pela Citroen e o SM (Sport Maserati) nasceu, todo o estilo e conforto que seria de esperar por parte dos franceses, aliado com o espírito de competição dos italianos. Se é algo original que procura e se o orçamento é limitado, um SM é sem dúvida a escolha acertada. É difícil encontrar algo que possua um tom “retro futurista” como este, alias creio que os Citroens (DS e SM) são os únicos com este atributo. Como referiu Jay Leno no seu website ao falar do SM que possui, cada vez que uma série de televisão ou filme pretende retratar algo futurista, os automóveis utilizadas são geralmente Citroens; recentemente tive a oportunidade de ver a série “Caprica” e constatei esse facto por mim próprio.
O SM é dotado de um V6 de 170 cavalos, nada de extraordinário, mas o objectivo deste carro nunca foi bater a competição em velocidade, mas sim impressionar o público. Dotado do famoso sistema hidráulico de suspensão que também equipava o DS (assemelhando-se a sua condução, segundo a Road and Track Magazine, a uma "magic carpet ride”), o SM era inovador por levar a hidráulica mais além que o seu antecessor; parado, a direcção do SM endireitava automaticamente sem qualquer intervenção do condutor e o sistema de travões tradicional foi substituído também por um circuito hidráulico, sobrando apenas um botão (não pedal) que não se move independente de com quanta força o condutor o calque.
Garanto que vai chamar a atenção ao conduzir um SM e creio que esse é o ponto de possuir e manter um clássico, algo sobre o qual se seja interpolado e se possa contar histórias, apontar particularidades e surpreender, acima de tudo surpreender; com grande dificuldade encontrará algo que desempenhe esta função tão bem como o SM. Haverá quem lhe diga (ou poderá já ter a ideia) que a hidráulica do automóvel é complexa e dada a problemas, pessoalmente e pelo contacto que tenho tido com quem trabalhou com estes sistemas durante vários anos, aplica-se o mesmo princípio que se aplica a qualquer outro sistema de qualquer outro automóvel: avarias podem acontecer, mas com a manutenção adequada tal é pouco provável, por isso não tenha receio e aproveita a oportunidade de originalidade por um preço simbólico.

O que procurei fazer mais uma vez é provar que um orçamento limitado não implica necessariamente um automóvel limitado. Há sempre espaço para a originalidade e para qualidade.