quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Uma visão sobre: 3 ícones desportivos dos anos 70

Sou uma pessoa que (obviamente) adora automóveis e quando me refiro a automóveis, incluo uma série quase infindável de modelos de todas as marcas e todas as eras. Estando assente este ponto, não consigo esconder a minha preferência pelas décadas de 60 e 70’ do século passado. Diz o povo que gostos não se discutem e com muita razão, porque não consigo dizer porque prefiro por exemplo um Aston Martin Lagonda de 78 que, para todos os efeitos é um automóvel péssimo (inserir aqui subtilmente sugestão para a leitura do artigo anterior “ícones do luxo da década de 70) ao invés de Ferrari 599 actual, mas simplesmente faço-o.
Regresso neste artigo à década de 70 (passo a expressão) por este mesmo gosto indefinível, compreendendo que tendo sido contemplado o luxo, falta a performance. E para representar orgulhosamente o que de melhor se fez nesta década no campo do “andar depressa e parecer bem”, escolhi três distintos cavalheiros que apesar da idade, são cada vez mais populares: o Aston Martin V8 Vantage de 1977, o Ferrari Daytona de 1972 e o Isso Grifo Can Am também de 1972. Os mais astutos entre vós colocam com todo o mérito a questão: Então mas por exemplo o Daytona é de 1968, porque destacar o de 1972? E a resposta é a seguinte: Existem algumas subtis diferenças estilísticas ao longo dos anos de produção, mantendo o exemplo do Daytona, a frente sofreu alguns retoques desde a data de lançamento, tendo sido substituídos os faróis aninhados por detrás de uma cobertura translúcida, por faróis escondidos que, pessoalmente, acho muito mais bonitos. Esclarecimentos prestados, passemos ao que interessa.

Aston Martin. E podia provavelmente parar por aqui, porque não consigo pensar em muitos mais nomes da indústria automóvel que sejam simultaneamente sinónimo de estilo, velocidade, status e claro, uma quantidade infindável de sex appeal, em grande parte cortesia de Mr. Bond. Mas por entre todo este mundo de vodka-martinis e galmour tão ligado aos modelos da mítica marca Britânica, há um que na minha humilde opinião é especial: o V8 Vantage. Este Aston não teve uma vida fácil, porque nesta era foi incrivelmente difícil sair da sombra do colosso chama Countach. Esta maravilha do design teve um impacto inimaginável no mundo automóvel, algo que é simples de comprovar ainda hoje. Faça a experiência, da próxima vez que levar o carro a uma oficina que não seja a da marca, de uma olhadela pelas paredes, aposto que algures vai encontrar um poster do Countach.
Assim, era sem dúvida um feito para qualquer automóvel fazer-se notar quando a Lamborghini colocou algo em circulação que aparentava ter sido trazido à terra por uma qualquer raça alienígena, mas o Aston Martin V8 Vantage tinha os atributos necessários para preocupar a competição. Aclamado como o primeiro “super-carro” britânico, o V8 Vantage podia olhar de cima dos seus (aprox.) 380 cavalos para os “meros” 353 também aprox.) do Countach. Velocidade máxima: 273 quilómetros hora, muitíssimo respeitável para a sua era (lembro as quase duas toneladas de peso), especialmente quando comparado uma vez mais com o exótico italiano que se ficava pelos 263 quilómetros hora. A aceleração dos 0 aos 100 ficava-se pelos 5.3 segundos, o que actualmente ainda é impressionante, na década de 70 era absolutamente fantástico.
Acerca do design, bem, dificilmente se poderia chamar de moderno, mesmo na sua era já que este era um V8 normal da produção da Aston, com as várias “pequenas” alterações que o fazem o que realmente é. Mas o essencial a reter é que funcionou, tanto em 1977 como em 2010, o V8 Vantage tem um ar respeitável, contido, afirma-se sem ser extravagante ou exagerado. À algum tempo atrás, o apresentador do “Top Gear” James May (a.k.a “Captain Slow”) professou a sua adoração por este Aston e não é de admirar; May teve a oportunidade de passar algum tempo com o Countach e acabou por chegar à conclusão que o lugar deste é nos posters de que falava à pouco, já o Aston é intemporal, estonteantemente belo, confortável, prático até tem quatro assentos, que mais se pode pedir automóvel?
Não se pode errar com um V8 Vantage, é sem qualquer réstia de dúvida um dos grandes automóveis que até hoje vieram ao mundo. É claro que se dinheiro não constituir um problema, é impossível não recomendar a compra de um Aston Martin V8 Vantage Oscar India de 1978, pois esta versão incorporou uma série de detalhes estilísticos que o fazem parecer mais “musculado” e impressionante.
Mas o que eu mais verdadeiramente aprecio o V8 Vantage é a sua longevidade já que este modelo foi produzido com relativamente poucas alterações até 1990, 1990! 13 anos em produção, deva dizer-se, com todo o mérito. Entre as versões produzidas, destaco o Zagato e o Volante, embora o meu apreço seja dedicado ao modelo de 78 que já referi (é claro que não diria que não a um de 79 como é o caso do apresentado nas imagens, equipado com fantásticas jantes da BBS e nem sequer me vou referir aos últimos modelos equipados com o “X-Pack”…). O legado de excelência que este modelo carrega consigo, reflecte-se no preço, logo vou escolher não discutir este inoportuno tema mundano.

Num registo completamente diferente, encontramos (como seria de esperar) os italianos e o seu expoente máximo de expressão automóvel, a Ferrari, cujos modelos são descritos por Jeremy Clarkson como “a scaled down version of God”; eu não vou tão longe, alias porque não considero que um automóvel deva ser julgado apenas pelas ocasiões em que de facto trabalha, o que no caso dos Ferraris, se resume a aproximadamente os primeiros 15 minutos após a compra (fãs da Ferrari, não me enviem e-mails, eu também adoro a marca italiana).
Para provar este apreço, estou aqui para defender o Ferrari Daytona como um dos melhores designs da história da humanidade, não apenas em relação a automóveis, mas na generalidade. Desafio qualquer pessoa a apresentar-me um ângulo a partir do qual o Daytona não pareça absolutamente perfeito.
De um modo mais formal, podemos chamar o Daytona pelo seu nome completo, 365 GTB/4 (GT de “Gran Turismo”, B de “Berlinetta” e 4 de 4 árvores de cames), já que a própria designação “Daytona” foi aparentemente atribuída pela imprensa e não pela fábrica (como afirma Bill Vance no seu artigo para o website da “Canadian Car and Driver”); no entanto, outras fontes referem que o automóvel foi de facto baptizado pela Ferrari como “Daytona” em comemoração da vitória nas 24 horas de Daytona em 1967; a sucessão correcta de eventos, não sei precisar como é lógico, mas o essencial é que o nome pegou e muito poucas pessoas se referem a este automóvel pela sua designação (dita) correcta.
Apresentado no Salão de Paris e produzido de 1968 a 1974, esta obra prima da companhia de Enzo Ferrari conta com um assombroso V12 debaixo do seu longo capô que em conjunto com seis carburadores duplos da Weber, dão ao super-carro italiano 352 cavalos, permitindo uma velocidade máxima de 279 quilómetros/hora e uma aceleração dos 0 aos 100 em cerca de 6 segundos.
Mais que digno sucessor do igualmente fantástico 275 GTB/4, o Daytona nasceu da concepção de Leonardo Fioravanti, designer da conceituada Pininfarina e que de acordo com o website da “howstuffworks”, ao olhar para um chassis de um 330 GTC decidiu fazer algo de novo; o projecto foi bem recebido por Sergio Pininfarina e o resto, como se costuma dizer, é história; Fioravanti chegou mesmo a afirmar numa entrevista em 2008 que este foi o seu melhor trabalho. O Daytona assinala o final de uma era, pois foi o último modelo a ser produzido pela Ferrari antes da companhia ser vendida pelo seu fundador à gigante Fiat.
Popular por todas as razões certas, o Daytona contou ainda com uma versão descapotável produzida por Sergio Scaglietti (com a aprovação de Sergio Pininfarina) e é claro, quem podia esquecer a sua participação em Miami Vice ao lado de Crockett and Tubbs?
Resta-me apenas dizer que se já era…insensato falar de preços em relação ao V8 Vantage, os Ferrari Daytona custam na maioria das vezes o dobro dos anteriores, logo é melhor avançar para o próximo modelo.

Passando de dois gigantes da indústria para algo mais “obscuro”. O nome Iso Rivolta é-lhe familiar? Provavelmente não. Não se sinta mal, afinal de contas a companhia só esteve em funcionamento entre 1953 e 1974. Mas estes 19 anos produziram algumas pérolas, nomeadamente os modelos “Grifo” que viveram várias encarnações ao longo dos seus 10 anos de produção (64/74). O primeiro Grifo a aparecer foi o A3 Lusso em 1964, ao qual sucedeu o Lusso GL 300 em 1966.
Estes automóveis recebiam os seus motores da Chevrolet, aliás estes motores eram os mesmos V8 327 de bloco pequeno que equipavam os Corvettes. No entanto o website da “uniquecarsandparts” afirma que estes motores não eram apenas retirados do caixote e montados nos Grifo, mas estavam sim sujeitos a um processo meticuloso de reconstrução e adaptação à sua nova casa como “corações” dos desportivos desta marca Italiana.
Em 1966, Renzo Rivolta morreu, deixando o lugar de líder da companhia para o seu filho Piero Rivolta que optou pela continuação da produção dos Grifo, melhorando inclusive o modelo ao adoptar novos motores (também da Chevrolet). Agora com 7 litros, os motores L71 de bloco grande brilhavam em termos de performance e ditavam também algumas alterações estéticas nos modelos, exigindo mais espaço, levando a companhia a incluir novas formas nos capôs, de modo a conseguirem acomodar o enorme V8 americano.
No entanto, o modelo que mais me apela na história dos Grifos, é o Can Am IR8 produzido a partir de 1972. Este modelo foi a última expressão de excelência da construtora Italiana antes do seu desaparecimento em 1974. Os motores deixaram de ser providenciadas pela Chevrolet para passarem a ser utilizados os Ford Cleveland Boss 4BBL. A razão porque adoro os últimos Grifo com motores Ford é porque são incapazes de esconder aquilo que são; enquanto que os modelos anteriores sofreram algumas alterações estéticas para acomodarem os motores, com a utilização dos Boss, o capô teve obrigatoriamente de ser cortado e elevado, criando inadvertidamente uma das formas mais brilhantes que (na minha opinião) a indústria automóvel conheceu até hoje, é simplesmente brilhante. O Grifo Can Am IR8 de 72/74 é um dos mais bem sucedidos casamentos entre o elaborado design europeu e potência crua americana, basta observar as fotos para compreender a excelência desta união: estão presentes as formas curvilíneas e aerodinâmicas ao longo da traseira, a frente é um eco do Daytona, no fundo, do melhor design da época e titânico motor Ford quebra violentamente com o domínio das tendências europeias, exigindo uma “moldura” de linhas rectilíneas tão características do estilo dos “muscle cars”.

Que mais se pode dizer? Sim, o V8 Vantage tem a presença e sim, o Daytona tem o estilo, mas sou incapaz de fugir à ideia de que se tivesse a (hipotética) possibilidade para tal, escolheria o Grifo IR-8…volto à minha ideia inicial de “gostos não se discutem”, mas mesmo assim, creio que nesta situação é mais que isso. O Aston Martin tem a tradição, mas também não consegue deixar de passar uma atitude de certo modo elitista; o Ferrari tem a beleza, mas sendo isso mesmo, um Ferrari, terá também sempre associada a si uma ideia de “pureza de linha”, um compelxo de superioridade (não discutirei aqui se merecido ou não, porque acho que já me fiz entende claramente ao longo deste artigo) sobre tudo o resto, uma certa…arrogância (falo por mim, mas se tivesse um Daytona, certamente não quereria andar com outros donos de Daytona e isso diz muito sobre a minha escolha, o mesmo aplica-se ao Vantage).
Já o Grifo mantém os atributos dos anteriores, é rápido, é belo e é raro, mas de algum modo, é mais apelativo; talvez entre aqui a qualidade de “underdog” que Richard Hammond gosta de referir, não sei explicar convenientemente, posso no entanto dizer o seguinte: com 95.000 euros à disposição, creio que não pensaria nos anteriores e rumava à Holanda onde encontrei uma destas beldades à venda enquanto acabava de procurar as fontes para este artigo. One can only hope.

Fontes consultadas e imagens utilizadas:

- Iso Grifo IR8 Can AM
http://home.tiscali.nl/isorivolta/isogrifo.htm
http://www.autos70.com/2008/09/iso-grifo-can-am-1972-74.html
http://wikicars.org/en/Iso_Grifo
http://www.uniquecarsandparts.com.au/car_info_iso_grifo.htm
http://www2.uol.com.br/bestcars/ph2/233b-2.htm
http://www.classiccarsforsale.co.uk/classic-car-page.php/carno/50212
(Imagens)
http://www.allastonmartin.com/items/535?back=%2Fstock http://www.velocetoday.com/archives/1623

- Ferrari Daytona
http://www.canadiandriver.com/2009/05/01/motoring-memories-ferrari-365-gtb4-daytona-1968-1974.htm
http://auto.howstuffworks.com/ferrari-365-gtb-4-daytona.htm
http://www.supercars.net/cars/1904.html
http://wikicars.org/en/Ferrari_Daytona
(Imagens)
http://blog.hemmings.com/index.php/2008/05/

- Aston Matrin V8 Vantage
http://jalopnik.com/cars/jalopnik-fantasy-garage/jalopnik-fantasy-garage-1978-aston-martin-v8-vantage-244039.php
http://www.carfolio.com/specifications/models/car/?car=35497
http://wikicars.org/en/Aston_Martin_V8_Vantage_(1977)
http://www.v8vantage.com/AMQ2.pdf
http://v8vantage.com/AMQ.pdf
(Imagens)
http://www.pistonheads.com/gassing/topic.asp?h=0&f=23&t=637286&mid=0&i=0&nmt=RE: PH Heroes: Aston Martin V8 Vantage&mid=0

http://www.pistonheads.com/gassing/topic.asp?h=0&f=23&t=637286&mid=0&i=100&nmt=RE: PH Heroes: Aston Martin V8 Vantage&mid=0 (

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