quinta-feira, 25 de março de 2010

Ícone - Vector W8

Gerald “Jerry” Wiegert é um nome acerca do qual muito provavelmente nunca ouviu falar, Consequentemente a empresa Vector Aeromotive Coroporation também será para si uma enorme incógnita. Não é surpreendente, afinal a produção desta companhia não durou muito tempo e os automóveis produzidos não são muito conhecidos do grande público. Porque escrever sobre então sobre este assunto? Porque em primeiro lugar, existe uma verdadeira epopeia por detrás da Vector e das suas criações; além do mais, uma destas criações é provavelmente o automóvel de produção mais louco e sui generis que o mundo alguma vez conheceu; e acima de tudo, o motivo porque me levou a escrever este artigo é o facto de que a Vector ainda resiste. Parece uma contradição do que acabei de mencionar à pouco certo? Mais à frente tudo fica mais claro.
Mas regressando ao início: Após concluída a faculdade um jovem “Jerry” Wiegert associou-se a Lee Brown e no início da década de 70 do século XX, criou a “Vehicle Design Force” com o intuito de criar um automóvel completamente novo e revolucionário. O Vector que estaria equipado com um motor Mercedes de tipo Wankel. E a partir daqui começam os problemas. A parceria Wiegert/Brown durou pouco tempo e a Mercedes acabou com os planos de construírem motores para o Vector. Em breve “Jerry” mudaria o nome da companhia para Vector Aeromotive Corporation que produziu um novo design sem motor para o acompanhar, o W2 que em 1992 trocou de nome para W8. Mas antes de falar do W8, gostaria de continuar com o retrato da companhia, vale a pena garanto.
Após uma fraca produção do W8, a Vector focou-se no WX-3, algo completamente diferente de tudo o resto, ambicionando uns inacreditáveis 1000 cavalos (lembro que estes mesmos 1000 cavalos ainda eram inacreditáveis até à bem pouco tempo quando o Bugatti Veyron estabeleceu um novo pico na performance automóvel com 1001 cavalos). No entanto este fantástico novo motor pretendido pela Vector nunca acabou por ser construído, tendo sido utilizado um comum Chevrolet sobrealimentado. Como menciona Simona Alina do website “TopSpeed”, o elevadíssimo preço do WX-3 e a fraca qualidade de construção levou a problemas financeiros graves que resultaram em falência. Já em 1993, uma companhia Indonésia chama “Megatech” (com um nome destes, só podia correr bem…não consegue deixar de soar a uma daquelas empresas maléficas das séries de televisão como “Massive Dynamic”, “LuthorCorp”, “Blue Sun”…) tomou (de modo ilegal deva dizer-se) a Vector e impediu Wiegert de tomar um lugar de destaque na companhia, fazendo que este a abandonasse.
De 1995 a 1999 a Vector produziu 17 modelos M12 equipados com um motor V12 da Lamborghini (que também foi propriedade da “Megatech” entre 94 e 98), algo que não era suposto pois o M12 é apenas uma versão do WX-3 que estava apenas preparado para receber um V8 levando a radicais alterações na sua concepção. Mas os baixos valores de produção do M12 estavam longe de ser os únicos problemas da Vector. Tommy Suharto, filho do homicida em massa Suharto (presidente da Indonésia) era uma das figuras chave da companhia e seguindo o exemplo de excelência do seu pai, defraudou a companhia de tal modo que esta não pode continuar a comprar motores à Lamborghini, efectivamente parando a produção e acabando com a empresa em 1999.
O que me leva ao início deste artigo. Sim, a Vector foi à falência mas “Jerry” manteve-se fiel ao espírito visionário que o levou a fundar a sua companhia e em 2008 após uma batalha feroz em tribunal, consegui reaver as propriedades e direitos de autor da marca Vector, levando ao nascimento da nova “Vector Motors Company”. Em 2007, Gerald apresentou a sua nova criação no “Los Angeles Auto-show” denominada de WX-8 e que ambiciona uma potência de (e não, não me enganei a escrever) 2000 cavalos! É sem dúvida Wiegert no seu melhor!
Mas (como prometido), regressando ao que é o motivo deste artigo, o Vector W8. Todo este automóvel era inovação, o seu próprio conceito não passaria pela cabeça da maioria das pessoas: um caça militar para a estrada. E certamente em termos de aspecto, missão cumprida. O W8 não se parece com mais nada em circulação, não consigo pensar em nada mais radical em termos de design que este automóvel. Nem os concepts loucos dos anos 70 como o “Bulldog” da Aston Martin, o “Boomerang” da Maserati ou o “Tapiro” da Porsche chegam aos calcanhares do W8 no que diz respeito a estilo e originalidade.
Com já foi mencionado, o W8 foi revolucionário; A sua elaboração era efectuada com materiais leves mas resistentes, como alumínio, fibra de vidro e kevlar, sendo utilizados rebites (ao bom modo da construção aeronáutica) para a construção do chassis. O motor V8 de 6L em alumínio providenciava mais de 600 cavalos (com a ajuda do sistema biturbo é claro) quer permitiam uma aceleração dos 0 aos 100 em 4.2 segundos, sendo que a velocidade máxima chegava bem acima dos 300 quilómetros por hora. Toda a informação era apresentada ao condutor através de painéis electrónicos (uma vez mais inspirados na aviação) que mostravam além das informações anteriormente mencionadas, todos os níveis de fluidos vitais e temperaturas nas diferentes áreas do automóvel. O W8 era seguro também, pois estava equipado com travões semelhantes aos usados em carros de competição, uma “rollcage” também ao nível das usadas em corrida, um tanque de combustível também altamente resistente a impactos (existindo um extintor no interior, só para o caso de…) e painéis desenhados para deformação progressiva em caso de impacto; aliás o sistema de absorção de impacto era tão eficiente, que o mesmo W8 foi usado para todos os testes de colisão, tendo ficado em perfeito estado para ser conduzido após ter sofrido os testes.
Também em termo de luxo o W8 não envergonhava o seu proprietário; interiores em pele, ar condicionado, um tejadilho removível, assentos da “Recaro”, sistema de som exclusivo, etc.
22 W8 foram construídos, mas apenas17 foram vendidos, pois os restantes eram modelos de pré-produção e protótipos. No entanto o W8 sendo um Vector, não foge à tendência de família e viu-se de imediato envolvido em grande polémica. O primeiro W8 saiu da fábrica em 1990 com rumo à garagem do príncipe Khalid da Arábia Saudita, isto com 3 anos de atraso em relação à data inicialmente prevista para a entrega. Note-se que na sua era, o W8 era um dos carros mais caros do mundo, com um preço que se aproximava bastante do meio milhão de dólares! Mas não foi apenas o atraso na entrega que feriu a reputação do W8. Um dos primeiros automóveis produzidos foi vendido a super-estrela do ténis Andre Agassi. A Vector concordou em vender e entregar um W8 a Agassi com a condição de que este o não o conduzisse até que a companhia pudesse realizar todos os acabamentos no carro que, na altura, ainda não estava completamente pronto. Escusado será dizer que o tenista ignorou por completo os apelos da Vector e na mesma noite em que o automóvel tinha sido entregue, Agassi levou-o para uma sessão de condução (chamemos-lhe) pouca segura ou aconselhável nas estradas do Nevada em direcção a Las Vegas. O resultado? Não é difícil de adivinhar; com a falta dos necessários radiadores que ainda não tinham sido instalados na viatura, o sobreaquecimento foi obviamente inevitável, levando a um bloqueio que levou o W8 de Agassi a uma série de peões descontrolados, tendo um desastre de grande magnitude sido evitado por uma questão de pura sorte. Apesar de ter sido uma falha evidente de Andre Agassi que levou ao acidente, o tenista exigiu a Gerald Wiegert que este ficasse com o automóvel danificado e devolvesse os mais de 400.000 dólares pagos. Wiegert relutantemente concordou devido ao receio que a má publicidade (inevitavelmente inerente à visibilidade pública de Agassi) prejudicasse o seu negócio.
Outro “soluço” na história do W8 foi o facto de que nem todos foram vendidos aos donos para que inicialmente se encontravam destinados; o caso mais falado é o de Warren Person, lendário vendedor da Ford que depois de ter feito um depósito inicial sobre um dos W8, acabou por ver o seu automóvel vendido (em estilo de leilão) ao interessado que mais dinheiro ofereceu pela viatura. Wiegert admitiu o erro publicamente e atribuiu responsabilidades pela quebra do contracto ao representante de vendas. Sem dúvida, um modelo com história o W8…

Apesar de tudo, acho que é impossível não gostar do W8, infelizmente, a sua exposição mediática mais positiva limitou-se a uma aparição no filme “Rising Sun” de 1993 (que pessoalmente não gostei de ver). No entanto o W8 é mais que a soma das suas partes. Pode não ser o mais perfeito dos automóveis, ou o mais reconhecido, mas tem o maior dos méritos: espírito de inovação. Sem dúvida que o W8 queria chegar mais além do que chegou, mas o importante é que tentou; passa-se o mesmo com o novo protótipo de Gerald Wiegert, chegará alguma vez aos 2000 cavalos? É perfeitamente normal assumir que não, mas a meta está lá, o desejo de fazer mais e melhor continua presente e só por isso, à que dar o devido reconhecimento à Vector. No mundo automóvel a norma só tem um propósito: ser quebrada; para tal é requerida visão. Para terminar faço minhas as palavras escritas por Douglas Kott na revista “Road and Track”em Março de 1991: “Hats off to Gerald Wiegert and His team of dedicated engineers, and to all the others with the fortitude and determination to have their dreams see the light of day”.


Fontes consultadas e imagens utilizadas:
http://auto.howstuffworks.com/1978-1998-vector4.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Gerald_Wiegert
http://www.autozine.org/strange_car/strange_50.htm
http://www.conceptcarz.com/vehicle/z916/Vector-Wiegert-Vector-W8-Twin-Turbo.aspx
http://www.topspeed.com/cars/vector/1991-vector-w8-ar943.html
http://www.vectormotors.com/wx8-specs.html
“Road and Track” – Março de 1991, Págs 50 a 57 ( Digitalização disponível na internet através do endereço: http://forums.vwvortex.com/zerothread?id=4572486)

(Imagens)
http://autoshatterkepek.hu/index.php/vector/vector-w8.html
http://www.forum-auto.com/.../sujet63-35.htm

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