terça-feira, 25 de maio de 2010

Ícone - Phantom Corsair

No que diz respeito a automóveis, nada me agrada mais que um modelo que esteja à frente do seu tempo. É (para mim) impressionante ver o que uma boa dose de pensamento inovador é capaz de criar, especialmente quando tudo à sua volta segue num ritmo muito mais lento. Mas dito isto, o final da década de 30 do século XX parece ter sido de facto um período especialmente fértil em termos de ideias para o design automóvel; a Mercedes criou o absolutamente surreal T80 para competição, mas os americanos decidiram aplicar o seu espírito empreendedor na criação de um automóvel de estrada. Nascia o assombroso Phantom Corsair.
Rust Heinz (sim, da família do Ketchup) tinha uma ideia muito concreta do automóvel que queria criar. O “pequeno” problema que se apresentava, prendia-se com o facto de Rust não ter qualquer tipo de experiência no negócio dos automóveis, ou em qualquer outro negócio deva dizer-se, pois Rust acabara de abandonar os estudos em arquitectura naval na universidade de Yale para estabelecer o seu próprio estúdio de design. Por sorte Heinz tinha a quem pedir ajuda, neste caso uma tia que, sob fortes protestos do resto da família “Ketchup”, cedeu os fundos necessários para a construção do (único) Corsair. Este modelo teria um preço previsto de cerca de quase 15.000 dólares! Pode não parecer muito agora, mas 15.000 dólares em 1938 era uma absoluta fortuna, lembremo-nos que um Ford Modelo T custava qualquer coisa como 400 dólares e mesmo o extraordinário Cadillac V16 (como o utilizado por Al Capone) custava quase três vezes menos que este valor. Como resultado desta extravagância monetária, acabaram por nunca se registarem encomendas para o Corsair.
O primeiro modelo à escala da criação de Rust foi levado aos construtores de carroçarias Chistian Bohman e Marice Schwartz em Pasadena na Califórnia. Acopolado a um chassis feito por encomenda na AJ Bayer Company e usando a base mecânica de um Cord (já de si, um automóvel extraordinário) o corpo aerodinâmico envisionado por Rust tornou-se uma das formas mais extraordinárias da época (e, deva dizer-se, de todos os tempos); Todos os painéis do automóvel foram feitos moldados à mão em alumínio, os faróis foram especialmente criados para o propósito, assim como os suportes telescópicos que prendiam os exclusivos pára-choques cromados.
Utilizando um motor V8 de 180 cavalos, o Corsair deslocava as suas duas toneladas a mais de 180 quilómetros/hora. O interior era luxuoso e acomodava confortavelmente seis passageiros (quatro à frente – um destes sentado à esquerda do condutor – e dois atrás) que beneficiavam de controlo climatérico e um tablier especialmente desenhado para minimizar ferimentos em caso de impacto; o acesso ao interior da viatura era possibilitado não por puxadores, mas por botões ligados ao sistema eléctrico do Corsair. O condutor tinha também à sua disposição uma consola acima do pequeno pára-brisas que indicava quando as portas se encontravam mal fechadas, o rádio ligado ou as luzes acesas.
É no entanto importante registar que existiam alguns problemas resultantes da mecânica e design avançados do Corsair; por exemplo, as entradas de ar à frente eram bastante estreitas de modo a fluírem naturalmente com a forma aerodinâmica, o que causava uma insuficiente entrada de ar para o motor e consequentemente, sobreaquecimento.
O desenvolvimento do Phantom Corsair tinha sido um enorme esforço financeiro, estima-se que tenha custado entre 24 e 25.000 dólares a criar esta peça única. Era então necessária alguma exposição mediática. O automóvel foi capa da revista “Motor Age”, teve anúncios na famosa “Esquire”, foi publicitado na feira mundial de Nova Iorque (1939) e ainda teve também um papel de destaque no filme “The Young in Heart”com Janet Gaynor e Douglas Fairbanks Jr, onde o Corsair era apresentado como o “Flying Wombat”.
Infelizmente a produção do Phantom Corsair nunca seguiu em frente. Pouco depois da conclusão do primeiro e único veículo, Rust Heinz morreu devido a ferimentos sofridos num acidente de automóvel, tinha 25 anos. O Corsair permaneceu na família Heinz até 1942, quando passou a ser usado por um dos membros desta mesma família (fontes não referem qual). Em alguma altura da sua vida, o Phantom Corsair foi pintado com tinta dourada e acabou por ser vendido ao humorista Herb Shriner que na década de 50, encomendou uma série de alterações ao veículo sob a orientação de Albrecht Goertz, o designer do BMW 507. Goertz alterou a frente do veículo com o intuito de melhorar o arrefecimento do motor, modificou o pára-brisas para aumentar a visibilidade e incluiu dois painéis tipo Targa no tejadilho do automóvel.
Felizmente o Corsair foi vendido em leilão a William Harrah, o magnata dos hotéis e casinos e grande entusiasta de automóveis que encomendou um restauro completo do veículo à sua forma original.
Actualmente o Phantom Corsair é parte integrante da colecção Harrah no National Automobile Museum (Reno, Nevada), fazendo ocasionais aparencias em público como foi o caso em 2006 no Goodwood Festival, em 2007 no Pebble Beach Concours e em 2009 no Amelia Island Concours d’Elegance.
O Corsair é sem dúvida um dos maiores ícones do estilo automóvel, não apenas dos anos 30, mas de sempre. É impossível não deixar de considerar que se este foi e preâmbulo da obra de Heinz, que outras espectaculares criações teria o jovem Rust trazido ao mundo se não tivesse sofrido tão prematura morte…

Fontes consultadas e imagens utilizadas:
http://auto.howstuffworks.com/1938-phantom-corsair.htm
http://www.conceptcarz.com/vehicle/z14381/Phantom-Corsair.aspx
http://www.supercars.net/cars/4422.html
http://www.ultimatecarpage.com/car/1905/Phantom-Corsair.html

(Imagens)
http://www.supercars.net/cars/4422.html
http://www.flickr.com/photos/ikeya/1216160238/

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