terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ícone(s) – Lamborghini Espada e Lamborghini Jarama

Os anos 70 do passado século XX foram uma era de contrastes acentuados para a indústria automóvel. Deu-se a queda na produção de petróleo, letal para os muscle cars, criaram-se concept cars “arrancados” do imaginário da ficção científica e correram-se riscos com criações como o Lagonda da Aston Martin, mas acima de tudo, a imaginação foi chamada à acção de modo a desenvolver novos conceitos com um futuro sustentável, algo que até então não tinha acontecido. Neste processo, nasceram alguns dos estilos mais curiosos que se possam imaginar e especialmente os construtores de grandes desportivos sentiram o apelo de inovar as imagens dos seus produtos ao nível do melhor estilo da época, numa sucessão quase infindável de linhas rectas e pormenores de design sui generis.
Uma das empresas que “abraçou” o espírito dos anos 70 foi a italiana Lamborghini e é claro, no ano de 1974 esta mesma companhia introduziu no mercado um dos automóveis mais revolucionários da história, o Countach. Mas é precisamente na sombra do Countach que se perde conhecimento por parte do público em relação a outras criações de relevo do mesmo período, já que a Lamborghini não vivia apenas deste emblemático modelo que “aterrou” sobre 1974 com o mesmo impacto que teria tido uma nave extra-terrestre por exemplo. Existiam outros automóveis da construtora italiana que não podem deixar de ser mencionados e para esta ocasião escolhi 2: o Espada e o Jarama.

Ainda em 1968, a Lamborghini apresentou uma criação singular, o Espada que se manteve em produção até 1978 e que contou com 3 etapas de produção, podendo o automóvel ser designado como S1, 2 ou 3. A nível pessoal, considero a versão S1 a mais interessante das 3, justamente por ter sido esta o alvo de todas as experimentações e de todas as críticas, pois como referiu o lendário Jay Leno, com o Espada não existe um meio-termo: ou se odeia, ou se adora.
Baseado no show car futurista (diga-se, extremamente futurista) de 1967 “Marzal”, o Espada é o resultado de extenso processo em que as características do Marzal foram alteradas e adaptadas de modo a tornar o automóvel o mais prático e “sociável” possível. Realmente a primeira acção deste processo foi reciclar componentes, já que com o seu amplo espaço frontal, a Lamborghini teve a oportunidade de transplantar para o conjunto motor/transmissão de outros carros anteriores da marca para a produção do novo Espada. O design exterior também se tornou mais civilizado, embora notoriamente radical, o que como já acima referi, continua a dividir opiniões havendo ainda hoje em dia quem considere o Espada feio. Trabalhado por Marcello Gandini, o “pai” do Countach e do Diablo, este Lamborghini é surpreendentemente prático, pois sendo um automóvel de 4 lugares reais, não apenas um “+2” onde os passageiros mal têm espaço para respirar, o Espada é extremamente confortável para qualquer um dos seus ocupantes; Alem do mais, a sua forma peculiar permite-lhe possuir uma bagageira que quando comparada a compartimentos semelhantes de outros modelos da marca, é absolutamente gigantesca e graças à sua enorme janela traseira, a linha de visão continua desimpedida mesmo com uma carga significativa de bagagem a bordo. É também na bagageira do Espada que se encontra um dos pormenores de design mais reconhecíveis na actualidade, mas que muito raramente é creditado à Lamborghini, o pedaço de vidro já fora da bagageira, acima dos farolins traseiros que facilita as manobras do veículo; Geralmente, é a Honda (com o seu CRX) que é apontada como a inventora desta técnica que é nos dias de hoje popular por exemplo, em híbridos como o Honda Insight.
É de facto uma (quase) garantia que o aspecto exterior do Espada não é “para todos”, mas se lhe for dado algum tempo, “it does grow on you” como tão eloquentemente aponta Daryl Adams do site “International Lamborghini Registry”. Pessoalmente, considero fantástica a forma do veículo, a frente é uma das mais conseguidas de todo o catálogo da marca italiana e sem a traseira peculiar, este seria um automóvel que se perderia certamente na história, sendo lembrado por muito poucos (caso do Urraco só a título de exemplo…)
Em relação ao desempenho, o motor Lamborghini V12 providenciou 325 cavalos ao Espada, permitindo-o alcançar 250 quilómetros hora, num consumo de 12/15 litros aos 100, nada mau para um V12 de 1968 com quase 5 metros de comprimento e dois de largura…
Produzido entre Março de 1968 e Novembro de 1969, o Espada S1 teve um número limitado de 186 unidades. Já o S2 GTE (Dezembro de 1969 a Novembro de 1972) viu a sua produção bastante mais vasta que o seu predecessor, já que 575 foram construídos neste período, com algumas mudanças a nível do estilo como um novo layout do tablier e novas jantes. Finalmente o S3 (456 construídos entre Dezembro de 1972 e 1978) sofreu mais algumas alterações em termos de estilo, com o seu “nariz” a receber alguns toques estéticos e o seu espaço interior a ser uma vez mais reorganizado; Um tecto de abrir surgiu como opção e o ar condicionado passou a fazer parte da lista dos equipamentos de série, mas talvez o mais dramático em relação ao S3, tenha sido a perda dos seus lindíssimos pára-choques cromados em função da necessidade de adaptar o automóvel às normas de circulação em vigor nos Estados Unidos da América, passando então o Espada a ser produzido a partir de 1976 com os desagradáveis pára-choques de borracha que infelizmente proliferaram neste período e arruinaram o design de alguns dos carros mais belos da época.
Actualmente, o Espada é um automóvel acessível, tendo em conta a sua história e o seu “pedigree”; Um S3 pode ser adquirindo por valores na casa dos 30.000 euros, enquanto que um bom S1 ultrapassará o dobro deste valor, mas de facto vale a pena, pois é difícil encontrar um super desportivo clássico tão original como o Espada por um gasto tão pouco significativo quanto este. Alem do mais, a má reputação que os Espadas adquiriram ao longo dos anos em relação à mecânica dita “problemática”, é vastamente incorrecta pois (recorrendo uma vez mais às informações expressas por Leno) como qualquer super desportivo italiano clássico, é necessário que o aquecimento do óleo do motor seja tido em conta, já que iniciar uma deslocação com um Espada cuja temperatura do óleo não seja suficientemente alta, é receita para uma catástrofe mecânica, mas se este pormenor for tido em conta, o Espada comportar-se-á sempre como grande automóvel que é e nunca incomodará o seu dono.

O Lamborghini Espada é também a base para outro interessante automóvel da companhia, o discreto Jarama. Este é um Lamborghini que não se parece de todo com qualquer outro design da marca, sendo extremamente intrigante na sua simplicidade. Alias, ao comparar o Jarama com o Countach, é difícil entender como são do mesmo planeta, quanto mais do mesmo construtor. Desenvolvido sobre uma versão reduzida da base do Espada, o Jarama foi baptizado em honra do distrito Espanhol com o mesmo nome (reconhecido pela criação de touros), tendo sido apresentado ao público no Salão de Genebra de 1970.
Criada pela Bertone, a forma do Jarama (pronuncia-se Yah-RAH-mah) é a mais intrigante que a Lamborghini alguma vez apresentou ao público, já que é enganadoramente complexa. À primeira vista, as linhas rectilíneas do Jarama aparentam pecar pela sua simplicidade, já que a extravagância é uma característica essencial de um Lamborghini, mas no entanto, este automóvel é uma verdadeira surpresa, visto que o observador pode (e irá certamente) reparar em algo novo de cada vez que contemplar o Jarama a partir de um ângulo diferente. Em resumo, este é um veículo de elegância implícita.
Sucessor do Islero, o Jarama surgiu em duas versões, 400 GT e 400 GTS. O primeiro contou desde logo com o clássico V12 montado à frente que lhe permitia chegar aos 245 quilómetros por hora, pois embora fosse mais pequeno que o Espada, o Jarama pesava quase uma tonelada e meia, o que não o impedia no entanto de ser um automóvel muito confortável, e agradável de conduzir graças à sua grande estabilidade. Mais uma vez, a capacidade de carga tomou um papel importante no desenvolvimento do Jarama e caso o proprietário de um desses automóveis necessitasse de espaço extra, podia simplesmente rebater os bancos traseiros. Praticabilidade num Lamborghini com quase 4 décadas, absolutamente fantástico! Entre 1970 e 1973, 177 Jaramas foram construídos, dando então lugar ao GTS.
Produzido entre 1973 e 1976 após ter sido apresentado no Salão de Genebra de 1972, o Jarama 400 GTS teve uma produção de 150 unidades e podia ser facilmente distinguido do GT pela sua grande entrada de ar no capô. Um novo sistema para o limpa pára-brisas e novas jantes foram também adicionadas ao Jarama. As alterações continuaram no interior, quando algumas das aplicações em madeira foram substituídas por alumínio, o isolamento contra o calor e o ruído foi melhorado e os bancos da frente viram o seu tamanho reduzido como modo de aumentar o espaço disponível para os passageiros dos assentos traseiros. Também a performance foi beneficiada nesta versão do Jarama, pois foram retirados 80 quilos a peso total da viatura, tendo também sido “encontrados” mais 15 cavalos no V12, permitindo ao 400 GTS chegar aos 260 quilómetros por hora, 15 quilómetros hora mais rápido que a versão anterior.
Ainda em relação ao Jarama, é relevante mencionar o potencial que este automóvel tinha, mas que nunca foi completamente desenvolvido, potencial que é possível compreender no Jarama RS, uma criação única por parte no Neo-Zelandês Bob Wallace, piloto de testes sénior da Lamborghini nas décadas de 60 e 70. Contrariando Ferruccio Lamborghini que se recusava a abandonar conforto em função da performance, Wallace “despiu” um Jarama de tudo o que não era necessário e criou uma verdadeira máquina de competição única. Infelizmente, o percurso oficial do Jarama nunca permitiu que uma versão desta natureza fosse destinada à produção, de facto uma perda para a história da Lamborghini…
Hoje em dia, é possível trazer para casa um Jarama S por cerca de 45.000 euros, mais uma vez, este é um valor acessível para um clássico com vitalidade e que permite uma utilização extensa.

O Espada e o Jarama são interessantes pela sua singularidade, mais interessantes ainda por serem ambos Lamborghinis improváveis. Qualquer um destes automóveis trouxe controvérsia à construtora, os seus designs agitaram a opinião de críticos e do público em geral, mas uma coisa é certa: a nenhum dois se pode negar o mérito da originalidade e extraordinariamente, da funcionalidade. Estes são dois automóveis que se encontram acessíveis em termos monetários, facto que não irá durar para sempre, pois daqui a relativamente pouco tempo, a comunidade de coleccionadores automobilísticos irá abandonar o estigma que guarda há anos contra estes dois modelos, reconhecendo então os números limitados de produção e o seu valor intrínseco, causando uma forte subida nos preços. Se estiver interessando num destes modelos e tiver a disponibilidade económica necessária, aja agora, pois mais tarde vai com toda a certeza arrepender-se de não o ter feito.


Fontes Consultadas:
http://auto.howstuffworks.com/lamborghini-sports-cars3.htm
http://auto.howstuffworks.com/lamborghini-sports-cars4.htm
http://www.conceptcarz.com/vehicle/z1237/Lamborghini-Jarama.aspx
http://www.geocities.com/MotorCity/5849/espada.html
http://www.italiancar.net/site/cars/lamborghini/models/Jarama/jarama.html
http://www.lamborghiniregistry.com/Espada/
http://www.lamborghiniregistry.com/Jarama/index.html
http://www.lamborghiniregistry.com/Jarama/JaramaS/index.html
http://www.motorbase.com/vehicle/by-id/597/
http://www.thesupercars.org/lamborghini-super-cars/lamborghini-espada-a-true-four-seater/

Imagens Utilizadas:
http://www.lambo.com.pl/tapety/espada.php

Vídeo Recomendado:
http://www.jaylenosgarage.com/cars/69LamborghiniEspada_shell.shtml






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